quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Cego

Passei vários dias sem conversar com os Aliens. Mais à noite, quando ia a varanda podia vê-los sentados em cima da nave a conversar observando o céu. Não os incomodava, porém quando me sentiam davam um sinal de cumprimento com o polegar e eu entendia que tudo estava bem. Estes últimos dias meu trabalho no computador não rendeu e isto me deixou aborrecido ainda mais que, a Mãe não andou passando bem. Mais hoje lá pela tardinha resolvi desenvolver o trabalho. Digitei uma boa quantidade de parágrafos do titulo Crônicas que é a análise através da Ciência Aieme de um dos capítulos da Bíblia. Nela, Nereus descreve num resumo bastante sucinto fatos acontecidos desde os primórdios de nossa civilização até a data de hoje.  Estava salvando as páginas quando a janela de bate papo se abriu.
- Olá João. Problemas não é mesmo?
- Sim. Eu sabia que você estava inteirado deles, mais esperei você se comunicar para podermos discutir o assunto.
- Como seus tripulantes queiramos nós ou não temos que nos integrar ao seu trabalho. Que aliás por motivos outros ficou tumultuado nos últimos dias e isto não pode acontecer outra vez. Estou falando do tempo que você dispendeu sobre aqueles assuntos que o irritaram. Compreendo a sua posição de não aceitar declarações estapafúrdias e inverossímeis a respeito de cidadãos que contribuíram para o fortalecimento da cidadania de seu País mais você não pode participar destas querelas, pois atrasa o caminhar de toda obra e o tempo não anda, voa. È necessário que você entenda que você é o responsável no campo da vida material de um Código, o Código dos Códigos que deve ser repassado aos outros seres humanos com rapidez e propriedade. Como você tem uma postagem programada, é melhor se dedicar a ela e publicá-la. Depois disso então, discutiremos a situação atual do trabalho e o seu deslanche. Tenha um bom dia e amanhã nos veremos.
Ainda pude ver o sorriso de Theu antes da tela fechar. Já um tanto com o ânimo revigorado comecei a pensar na postagem e isso me levou a pensar no caso do Rapaz cego. O caso aconteceu um pouco antes da publicação de Os Deuses Vivem no Inferno lá pelo final de 1975. Morava de favor em um centro espírita e foi lá que começou a minha etapa de volta as artes plásticas. Estava sem vintém e viera ao Rio tentar encontrar o Intermediário ou O Observador mais não consegui encontrar ninguém. Como só tinha o dinheiro da passagem de volta e estava com fome comecei a caminhar depressa em direção a Pça. XV. Quando porém esperava o sinal abrir na Av. Rio Branco com a São José alguém mais alto do que eu pôs a mão no meu ombro num semi abraço e sorrindo me indagou;
- Porque você largou a Feirarte? Você não tem o direito de parar de pintar.
Era o Professor Rogério, jornalista e amigo.
Atravessamos a rua e sentados em um banco de uma pracinha na Rua São José expliquei-lhe tudo que estava acontecendo inclusive a minha situação.
- Nossos ideais ou sonhos nos cobram às vezes muito caro. No seu caso por exemplo, não se pode dar conselhos pois eu sinto que existe alguma coisa de concreto mais muitos mistérios por trais de tudo isso. Mais em relação a sua situação material, podemos dar um jeito. Porque você não começa pintando uns quadros para mim? Evidentemente que quero um preço especial. Você resolve os problemas de carência econômica e eu resolvo o meu problema de querer obras que jamais eu poderei comprar. Vamos combinar?
- Claro, claro respondi.
Mediante isso e sentindo que eu estava faminto, me convidou para lanchar e em seguida, nos dirigimos para seu escritório na Av. Beira Mar.
Seu escritório era decorado com obras de vários colegas da Feirarte. Embora ali ele trabalhasse praticamente sozinho, o escritório era grande e confortável. Conversamos sobre vários assuntos inclusive descreveu a sua viagem a Índia onde se tornou um Iniciado e isso ele me provou abrindo um armário onde guardava suas indumentárias e objetos de ritualística. Até hoje não sei o porquê de ele ter me mostrado os aspectos materiais de sua transcendência religiosa. Após fechar o armário, abriu uma gaveta em sua mesa de trabalho e dela retirou um álbum com fotos de vários quadros celebres bem como de pinturas de caráter religioso do Hinduísmo e de outras religiões orientais. Escolheu meia dúzia de fotos e disse;
- Estes são os que você vai pintar inicialmente. As medidas estão escritas no verso da foto. Calcule o quanto vai precisar para comprar telas, tintas, pincéis e seu pro labore inicial, enquanto isso vai descansar um pouco no sofá.
Telefonei para um amigo que tinha uma oficina de molduras e venda de materiais e aprecei como ele tudo que precisava. Esperei o Professor Rogério acordar de seu sono e lhe apresentei o orçamento.
- Ele também fornece molduras? Indagou.
Respondi que sim e ele se espreguiçando respondeu.
- Vamos ao banco retirar dinheiro, de lá você vai ao seu amigo e eu vou para uma reunião no jornal.
Ele era um dos diretores do jornal Tribuna da Imprensa e como a loja de meu amigo era próxima ao jornal viemos conversando sobre assuntos alegres pois ele era uma pessoa eminentemente positiva e entusiasta. Chegando a porta do jornal, ele retirou uma pequena agenda, anotou meu endereço, o telefone de meu amigo, deu-me seu cartão e despediu-se dizendo;
- Sua primeira empreitada é o quadro de Raddas e Krisnna. Só me apareça quando ele estiver pronto.
Sorrindo me deu um afetuoso abraço e me desejou boa sorte entrando pelo jornal adentro.
Meu amigo Levi já havia aprontado tudo que eu encomendara. Mais por vias das duvidas, acrescentei mais uma tela com as medidas da primeira encomenda. Como sempre, Levi me olhava com seu olhar de recriminação por eu ter deixado de pintar. Despedi-me e partir célere rumo a Pça. XV. Enquanto atravessava a Baia cochilei pois o mar um tanto encapelado fazia a barca adernar de uma lado para o outro e isto embalava o cochilo de muitos passageiros. Cheguei ao Engenho Pequeno um bairro humilde de Niterói ainda dia claro. O ponto de ônibus era na esquina e ao me ver saltar, Zinha, a esposa do pai de santo veio correndo com sua irmã me ajudar.
- Ah João que bom. Você conseguiu uma encomenda. Você vai ver que em breve você volta para a Feirarte. Lá é que é seu lugar.
Para comemorar, mandei buscar refrigerantes, pães mortadela e queijo e todos os que ali estavam trataram de arrumar o meio do salão do centro espírita para lancharmos em meio a algazarra das crianças.
Uma senhora já de idade avançada e Babá de outro centro falou apontando para mim.
- Os Erês estão sempre em volta dele por isso ele não pode fazer muita estrepolias. Conforme for a namorada eles botam até ela para correr.
Aquela semana foi de muita labuta. No dia seguinte tratei de improvisar um cavalete e comecei a desenhar a réplica da encomenda. Eu pintava no salão do próprio centro, pois não havia outro lugar disponível. Mais quando eu estava a pintar, Zinha tratava de expulsar os curiosos. De seção em seção uns seis dias depois já estava dando o quadro por terminado. Apesar de conhecer as técnicas de secagens rápidas, coloquei o quadro uns três ou quatro dias na varanda da entrada da casa para receber claridade e o ar fresco do dia. Muitos moradores paravam para admirar o quadro que realmente ficou bonito e símile a foto do original. Observei, no entanto, que um rapazola passava carregando latas d’água olhava mais não parava em frente a varanda como as outras pessoas.
- Esse rapaz é assim mesmo esquisitão. Falou Zinha.
-Ele só sai de casa para ir a escola ou carregar água para sua mãe. Não anda com os outros rapazes e nem joga bola. Ele realmente é diferente.
Quando tive a certeza que o quadro já estava totalmente seco, dei uma “spreiada” incolor que realçou ainda mais as suas cores e telefonei para o Prof. Rogério. Ele me recriminou dizendo que eu deveria ter telefonado bem cedo para que eu pudesse levar imediatamente o quadro, alegando que por causa disso não iria dormir sossegado. Mediante isso prometi que estaria no seu escritório o mais cedo possível.
Apesar de saber que todos atestavam que o quadro estava excelente, estava pressuroso quanto à opinião do Professor.
Sai muito cedinho do Engenho Pequeno e já pelas oito horas da manhã chegava à portaria do edifício onde ficava seu escritório.
- Moço, falou o porteiro. O Professor já chegou e disse para você subir imediatamente. Pode pegar o elevador social.
Quando saltei do elevador vi que a porta de seu escritório estava aberta mais a de serviço também. Sem me anunciar entrei sorrateiramente pela porta de serviço e fiz sinal para a arrumadeira não falar nada. Ela entendeu do que se tratava e foi arrumar a sala principal. Estava procurando um lugar para colocar o quadro de maneira que causasse surpresa quando percebi que a arrumadeira me fazia sinais para levar o quadro e colocá-lo na sala, pois o Professor estava no banheiro. Rápido coloquei o quadro no sofá e saí para o corredor. Nem bem tinha saído quando ouvi as exclamações de alegria e contentamento do Professor;
- Meu Deus! Que beleza. Eu tenho uma cópia fiel do original.
Entrei e ele como sempre me deu um afetuoso abraço e não se cansava de demonstrar a sua alegria. Durante a conversa ele ventilou a probabilidade de minha volta a Feirarte acontecer. Expliquei-lhe então que seria muito difícil, pois a procura por vagas era constante e eu havia abandonado a minha vaga. Mediante isso combinamos voltar ao assunto em outra ocasião. Como já estava na hora dele ir para o jornal, deu-me um cheque e descemos juntos. Na rua, antes de nos despedirmos, ele me relembrou que eu devia seguir a numeração das fotos para executar as encomendas mais ele preferia que pintasse a copia de um quadro de autor francês, cuja cena era um casal de namorados sentados debaixo de uma frondosa arvore.
Fiquei uns dois dias sem nada fazer, pois houve festas no centro e isto me deixava ansioso por pintar. Mais assim que terminou o evento tratei de iniciar a encomenda. Levei uns três dias para copiar o quadro usando duas técnicas, a egípcia muito usada por Da Vinci e a moderna que trabalha a partir de proporções geométricas. O desenho ficou excelente e era admirado por todos. Iniciei a sua pintura e a cada seção executada ia tratar de preparar as outras telas. Quando terminava uma seção, costumava pendurar o quadro na varanda para a secagem e no dia seguinte iniciava outra seção. Como sempre, as crianças e os vizinhos vinham admirar o desenvolvimento do trabalho, menos o estranho rapaz. Quando o quadro já estava praticamente pronto, resolvi arrumar o cavalete, pois ele estava um pouco bambo nisso, Zinha entrou e foi logo explicando;
- João, o mudo falou.
- Mudo? Mais que mudo é esse? Indaguei meio surpreso.
- É o rapaz João. Ele quer saber de você se ele pode em uma hora que você puder, o deixar vê-lo pintar.
Senti logo que por trás do pedido havia alguma coisa transcendental e respondi;
- Diga a ele que não me incomodo, mais só pode ser na parte da manhã as 09h00 horas.
Zinha saiu depressa para dar o recado e voltou imediatamente.
- Ele saiu todo satisfeito João. Será que ele quer aprender a pintar?
- Não Zinha. Ele é mais um que sabe que o que se passa neste mundo “não é o certo”.
- Será que tua sina é caçar “estrelas” João?
Zinha falava assim se referindo à capacidade que eu tinha segundos os santos da casa de contatar pessoas além das possibilidades mediúnicas e entendê-las. “Mediante isso, fiquei conhecido pelos freqüentadores do centro como o ‘caçador de estrelas” e isso me deu a oportunidade de vivenciar incríveis experiências que pela minha negligência não foram nem catalogadas nem registradas e só fui sentir a perda depois que fui embora de Niterói.
No dia seguinte exatamente as 09h00min horas o rapaz chegou. Entrou em silêncio e sentou-se em uma cadeira que lhe indiquei.
- Pode deixar que não vou incomodá-lo. Disse ele polidamente.
Fiz sinal com o polegar que estava tudo certo e continuei na minha tarefa de dar os últimos retoques no quadro. Após alguns confrontamentos com a foto dei o quadro por terminado dizendo;
- Agora só falta casarem.
- É um sonho que atravessa o espaço. Disse o rapaz.
- Talvez tenha sido o sonho do artista. Comentei
- É isso mesmo. Acho que ele foi preterido ou impedido de materializar seu sonho. Quando o artista executa uma obra, a posse da obra é dele, o gozo é dele. Os outros são apenas meros participantes de sua festa ou glória. O artista em questão, com certeza foi impedido de casar com a moça, mais não porque a moça não o amasse. Pura magia é o quadro, ele capturou a essência da moça. Veja que eles estão debaixo de frondosa arvore e com roupas de gala da época e a arvore que naturalmente é algo acolhedor representa o divino na situação. Logo podemos deduzir que aquele que casou com a moça tem seu corpo e sua presença mais não tem seu amor, ou seja, a sua essência porque ela o artista capturou e a materializou na tela. Quem tem sensibilidade pode até sentir o perfume que exala da essência da moça através do quadro. Por isso seu cliente ama este quadro. Nós somos apenas coadjuvantes e convidados a participar da comemoração do requintado artista.
- Caramba rapaz. Nunca havia pensado neste aspecto da arte.
- Desculpe Sr. João pelo meu entusiasmo. Desculpou-se o rapaz.
- Ora deixe de bobagem. Vindo estas considerações de um jovem de sua idade, muito me apraz escutá-las ainda mais que; você foi muito feliz na sua explanação. Aproveitando que dialogamos sobre fatos incomuns ao cotidiano, o que você deseja me perguntar, pois senti uma pergunta em seus lábios quando confrontava o céu da paisagem da foto com o céu que eu pintei.
- Já que o senhor tocou no assunto vou perguntar;
Primeiro; alguém pode ir até o Sol?
Segundo; existem buracos no espaço?
Sentindo o que aconteceria fui direto a ação.
- Quanto à primeira pergunta vamos fazer o seguinte. Aí sentado, procure harmonizar a sua respiração, aspirando e exalando várias vezes até que você sinta que sua respiração esta harmônica, feito isso, me dê o sinal de positivo e siga as minhas instruções.
Como Zinha estava à distância a tudo assistindo fiz sinal para que ela não deixasse ninguém se adentrar no salão mais que ela poderia permanecer na entrada. Ela aquiesceu com cabeça que sim e voltei- me para o rapaz que ainda não dera o sinal de estar pronto. Esperei mais alguns momentos e ele fez o sinal afirmativo e aí então comecei a lhe dar as instruções.
À medida que eu o instruía, ele ia fazendo sinal de positivo com o polegar. Isso durou uns cinco minutos. Quando ele mesmo deu por terminado indagou;
- Mais Sr. João o Sol não é abrasador? Como é que eles podem suportar tanto calor? Quem são eles e de onde eles vieram?
- Você viu uma gigantesca esquadrilha de naves chegando ao Sol. Não sei de onde eles vieram. Só sei que eles aterrizam no Sol e outra esquadrilha dias depois levantam vôo em direção as estrelas. Eles não devem ser como nós. A sua textura ou contextura física naturalmente deve ser diferente da nossa por isso eles não são afetados pelas radiações solares. Mais o que importa no momento para você é saber que outros seres humanos mais evoluídos do que nós podem visitar ou até morar no Sol. Quanto à outra pergunta não sei o porquê dela.
- Sr João, numa aula de física perguntei ao professor se existia buracos no espaço. O resultado da minha pergunta foi ser vítima de uma terrível gozação tanto da parte dele como dos colegas. Eu fiquei muito revoltado com o deboche.
- Muito bem. Vamos solucionar o caso. Na próxima aula repita a pergunta e independente da resposta, isto é o professor não terá uma resposta óbvia para você, a resposta que ele lhe dará será a negativa. Acontecido isto peça a ele para ir ao quadro negro, provar através da matemática que os buracos no espaço principalmente os negros não existem. Claro que ele não irá, aí você alega que existe duas maneiras práticas de provar a existência dos buracos. Evidentemente que seus colegas ansiosos pelo desfecho da disputa exigirão que você demonstre a prova. Então você vai até o quadro negro e diz “ – A demonstração pode ser feita de duas maneiras” Então use um giz e desenhe uma circunferência que possa ser vista por todos, depois dentro dela desenhe uma pequenina circunferência e diga “ Eu sou Deus e aí está uma buraco no espaço do meu universo. Como todos independente de religião temem a Deus aceitarão a sua afirmação como óbvia. Na segunda demonstração use uma folha de papel e uma caneta e diante de todos diga. “ – Eis ai o universo e imediatamente fure a folha de papel com a caneta. Não tenha medo de executar a proposta, pois nenhum deles terão condições de te desmentir.
- Sr João, esta sua proposta é sensacional. Como é que eu não pensei nestas possibilidades.
Nesse momento então, entendi que estava lidando com um super dotado, herança de um passado remoto que o sistema teima em desmentir que existiu. Há de se registrar aqui, que até os anos setenta o assunto buracos no espaço ou negros eram meras conjecturas de cientistas amalucados.
Como estava com fome, dei a entrevista como encerrada mais afirmando ao rapaz que ele poderia voltar quando quisesse. Ele agradeceu polidamente e se foi sem não antes me dizer em segredo;
- Eles de dentro daquelas naves sabiam que nós estávamos a observá-los.
O centro era frequentado por muitas moças e rapazes e assim que o rapaz saiu muito deles entraram no salão e começaram a discutir sobre o ocorrido, pois estavam a tudo assistindo através de uns buracos no painel que isolava a área em que eu trabalhava do resto do salão. Todos davam opiniões propondo reuniões em que eu os guiaria em situações tal como as que vivenciaram o rapaz. Diante da insistência de todos e da simpatia da dona da casa, a Zinha em realizar os encontros, não pude dizer não e acertamos para o dia seguinte à noite, realizar a primeira.
No dia seguinte tratei logo cedo de micro pulverizar verniz no quadro. O verniz deu-lhe mais vida e Zinha não cansava de admirá-lo.
- Maninho, era assim que ela me chamava, do jeito como ele é romântico, o Professor vai ficar extasiado.
Ali, diante do quadro conversamos sobre as reuniões e depois fomos tomar o café da manhã. Como começou a chegar gente para atividades religiosas no centro fui para a varanda onde comecei a ler algumas revistas velhas e o resto do dia não fiz mais nada a não ser conversar o trivial com um ou com outro freqüentador do centro.
À tardinha já havia chegado alguns rapazes e moças que haviam combinado participar das reuniões. Estavam ansiosos e por insistência da maioria resolvemos começar a reunião mais cedo do que o horário combinado. A impaciência tomava conta de todos e até de mim mesmo, então às oito horas resolvi dar inicio ao ansiado acontecimento. Eles mesmos arrumaram uma mesa enorme que havia no centro no meio do salão e todos nós nos sentamos a sua volta. Pedi calma a todos e que eles fizessem um pequeno exercício de respiração conforme o demonstrado por mim. Quando senti a harmonização plena, pedi que um deles propusesse uma atividade, como por exemplo, uma visita a um museu, uma pequena viagem mais por um longo momento ninguém se pronunciou, a timidez os dominava. Ventilei que a iniciativa não poderia partir de mim, mais sim de um deles. Isso fez com que uma mocinha sugerisse, pois ela tinha curiosidade sobre; uma visita a uma aldeia de pigmeus na África. Disse a ela que a ideia era ótima e que ela se projetasse mentalmente no tema; uma aldeia de pigmeus na África e tivesse a certeza que eu estaria a seu lado nos acontecimentos. Muito rapidamente a moça fechou os olhos recostou-se na cadeira como se em transe estivesse mais de uma maneira calma, tranquila. Quase fui pego de surpresa o que não seria nada agradável, mais prevenido pelo ato, fiquei atento a novos fatos. De repente para espanto de todos ela me indagou;
- Seu João porque eles estão tirando bolos de capim do estomago daquele animal que caçaram e estão chupando o caldo?
- Algumas tribos africanas quando abatem uma caça, costumam fazer isso para assimilar até espiritualmente a força do animal. Você ficou com nojo da cena? Indaguei.
- Não seu João, pois o animal é novo, selvagem e saudável. Não é como os nossos animais domésticos, imundos e doentios. Eu também vou experimentar.
Ao ouvir isso todos ficaram perplexos e na minha visão telemental a cena se fez presente. Ela se abaixou, apanhou uma pequena porção de dentro do estômago do animal e levou-a boca e sugou seu caldo. Enquanto limpava os lábios explicou;
- Gente, o animal mastigou plantas aromáticas, o gosto é uma mistura de hortelã e pitanga.
Como um pequeno cachorro percebeu a nossa presença e latiu furiosamente, retornei com ela rápido respeitando os conhecimentos mágicos dos pigmeus.
Ela acordou e o comentário entre eles rendeu conversa até altas horas. Muitas outras reuniões foram feitas onde fatos inusitados e situações de comprovada seriedade aconteceram como uma em que um rapaz amazonense numa rápida viagem astral experimental em sua terra encontrou sua irmã aflita para lhe enviar um telegrama comunicando o falecimento repentino de seu pai. O rapaz ficou abalado e muito nervoso e uma senhora freqüentadora do centro questionou a reunião. Diante do acontecido, dei a reunião por encerrada e todos se foram um tanto decepcionados. 

No dia seguinte, porém a noite, o rapaz veio nos informar que conseguira falar por telefone com a irmã e realmente seu pai havia falecido e que imediatamente ele viajaria para Manaus e viera se despedir. A estupefação foi geral e até Dinho, o pai de santo no entusiasmo, diante do fato comprovado falou que dali por diante ele também iria participar das reuniões. De imediato eu senti e li em seus olhos o motivo; ele estava enciumado e nas reuniões subsequentes isso me foi demonstrado ao forjar várias situações falsas, ou melhor, dizendo mentirosas. Para não me aborrecer ou causar polêmicas, vim ao Rio e combinei com minha Mãe que passaria algum tempo com ela até arranjar um novo lugar para morar. Como a Mãe concordou, voltei ao Engenho Pequeno e polidamente agradeci a hospitalidade alegando que a Mãe precisava de companhia e eu tinha de partir. No dia seguinte, após o café me despedi de todos e fui embora. Porém algum tempo depois fui obrigado a voltar ao Engenho Pequeno; havia esquecido uma maleta com documentos e livros e numa quarta feira fui até lá. Quando cheguei ao centro, Zinha estava na varanda com as irmãs e muito alegre me recebeu, conversamos muito e soube por ela que o Professor estivera lá pois Dinho estava realizando um trabalho espiritual para ele, eu disse que estava ao par e quando ia perguntar pelo rapaz ela adivinhando meus pensamentos falou;
Ele está cego João. Vão tentar uma operação nele a semana que vem. Acho que você devia vê-lo a mãe e os irmãos estão inconsoláveis. Tudo aconteceu de repente, dizem que foi o sol quente na praia que provocou a cegueira.
- Então vou lá agora. Dizendo isso fui à casa do rapaz no final da rua.
Em chegando no portão, o vi sentado ao lado da mãe na varanda. Ela me reconheceu e mandou que eu entrasse.
Ao me aproximar de ambos ele falou:
- Acho que cometi uma imprudência Seu João. Eu ficava na praia olhando para o Sol. Eles vão tentar uma operação em mim a semana que vem mais acho que os médicos não sabem nem o que tenho. Como não há outro jeito, eu vou.
- Você deve confiar nos médicos. Falei para consolá-lo.
Mais ele sabia disso e falou:
- A coisa é tão séria que nem o senhor sabe o que pode me dizer.
Conversamos mais um pouco e me despedi prometendo voltar no final da outra semana para visitá-lo. Desci a rua já preocupado com a sorte do rapaz. Mais no momento não sabia em que eu poderia ajudar. No centro peguei minhas coisas e me despedi da Zinha e do pessoal mais disse que voltaria para visitar o rapaz.. Zinha foi até o ponto de ônibus comigo e ficamos conversando trivialidades até o ônibus chegar. Demorou algum tempo para o ônibus vir, quando ele chegou me despedi da Zinha com um abraço e fui sentar num banco de onde ainda pude lhe dar um adeusinho. Ela era ou ainda é uma figura agradável e doce.
Na casa da Mãe, uma humilde meia água em Botafogo, numa vila bem em frente ao Pinel, hoje em dia um Condomínio de luxo, não havia espaço para pintar. A solução que encontrei foi ir pintar na praça do morro do Pasmado. Aquele pequeno morro que possui dois túneis em Botafogo onde fia hasteada uma enorme bandeira. O lugar é sossegado e a pracinha só e ocupada pelos moradores dos enormes edifícios a sua volta. Ali durante algum tempo foi o meu atelier a céu aberto.
Nessa época tentava o meu reingresso na Feirarte. Tinha o aval dos colegas mais a Prefeitura colocava muitos empecilhos a minha pretensão por isso, o Professor Rogério se utilizou de sua coluna no jornal Tribuna da Imprensa para me defender empregando a sua linguagem apaixonada e vibrante. Depois de umas três ou quatro matérias de um quarto de página a diretoria que controlava o acesso e fiscalizava a Feirarte cedeu e em Dezembro de 1975 retornei a Feirarte.
Aquela semana correu célere. Aprontara mais uma encomenda do Professor Rogério, o retrato de sua irmã vestida de cigana. Quando pendurei o quadro entre muitos outros quadros na parede de seu escritório ele balbucionou enxugando com um lenço as lágrimas dos olhos.
- Minha irmãzinha querida!
Conversamos um bocado e depois dele me dar um cheque descemos, fizemos um pequeno lanche em uma lanchonete e nos despedimos.
Já se havia passado duas semanas e resolvi ir ao Engenho Pequeno visitar o rapaz. Fui cedo e passei primeiro no centro e tomei um café com Zinha depois me dirigi à casa do rapaz. Chegando lá, como não havia ninguém na varanda ou no quintal bati palmas. Imediatamente quem assomou na porta da sala foi o próprio.
- Oi seu João é um prazer vê-lo. Entre. Mãe côa um café pra nós, temos visita.
Ele me indicou uma cadeira onde sentei ainda surpreso ao encontrá-lo disposto, alegre e enxergando.
- A operação foi um sucesso. Que competência dos médicos! Exclamei.
- Sim, muito competentes, mais não foram os médicos dos quais o senhor está pensando.
- Ué. Não foram os médicos do hospital? E quem foi então?
- Seu João eu teria que ser operado a semana passada. Tudo estava certo e me colocaram em um quarto onde me prepararam para no dia seguinte eu ser operado. Neste dia muito cedo eu fiquei pensando nos motivos que causaram a minha cegueira. E comecei a falar baixinho se naquelas naves havia gente mais desenvolvida do que nós e se eles podiam me ouvir eles bem poderiam com seu alto desenvolvimento me ajudar de alguma forma. Foi incrível Seu João. Nesse mesmo momento, mesmo cego, eu vi uma grande bola transparente entrar pela janela a dentro e uma força impressionante me levou para dentro da bola. Eu não sentia medo e não me debati mais fiquei um pouco assustado, pois a bola começou a diminuir de tamanho e tenho a plena convicção que ela ficou menor do que a cabeça de um alfinete. Quando isto se deu, senti que estava deitado em algum lugar e meus olhos estavam sendo remexido mais ai cai num sono profundo. Não sei quanto tempo fiquei na bola mais quando dei por mim, me conscientizei que estava enxergando e estava no quarto, imediatamente agradeci a quem tinha me ajudado e tratei de tomar um banho e me aprontar para ir embora. Estava arrumando minhas coisas na bolsa quando um enfermeiro e uma médica entraram no quarto. Eles vinham com uma maca para me buscar para ser levado a sala de operações.
- Você é o acompanhante do rapaz cego que vai ser operado? Indagaram.
- Não. O rapaz que era cego sou eu mesmo. Estou enxergando muito bem e quero é ir embora para minha casa.
- Seu João isso deu uma tremenda confusão no hospital e enquanto ninguém sabia o que fazer e a confusão reinava, tratei de ir embora e estou aqui graças a Deus e a estes amigos do espaço vendo, enxergando e conversando com o senhor.
Acostumado com o insólito, não fiz comentários efusivos e continuamos a conversar sobre vários assuntos. Quando estava me despedindo ele falou para que eu esperasse e entrou na sala, voltando de lá com duas páginas de caderno na mão cheias de estranhas equações.
- Não sei do que se tratam, mais são suas Seu João.
Abracei-o e me despedi e quando ia fechando o portão ele falou um pouco triste.
- Acho que não nos veremos mais Seu João, pelo menos nessa encarnação. Adeus.
Essas páginas, assim como outros documentos coletados através de contatos e experiências com outras pessoas “além do comum”, devido as minhas constantes mudanças de endereço na época se extraviaram e se perderam.
Foi uma irrecuperável perca. Uma irrecuperável perca mesmo.
****
**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão


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