Nos
idos do ano de 1980, talvez 1983.
Era
domingo e como de costume após montarmos nossos painéis na Feirarte
de Ipanema íamos tomar nosso café entre bate papos e leitura de
jornais.
Já
estávamos apressando a conta quando um colega entrou e me avisou:
-JB
tem uma senhora te esperando no painel. Parece ser uma cliente.
-
Mais a esta hora? indaguei.
-
Vá logo JB, a senhora parece impaciente.
Rápido
me dirigir para a praça e ao lá chegar qual não foi a minha
surpresa; Era Da V.
-
Olá João, como vai? Gostei de seu trabalho. Suas figuras são
alegres e prazeirosas.
Me fazem sentir saudades de meu Ceará.
Após
cumprimentá-la e trocar algumas idéias sobre arte e cultura
indaguei quais os motivos que a fizeram vir tão cedo a Feirarte.
-
Problemas João, problemas... desta vez não sou eu que está em
perigo, mais uma amiga minha e você a conhece. Ela como eu no
passado está sendo vítima de eventos ou situações ligadas a Pedra
da Gávea. Ela é a Vv.
-
Mais ela não era tão sólida, espiritualizada e até astróloga?
-
O ferro é forte e duro mais não é imune a ferrugem e ela está
enferrujando no corpo e no espírito. Você só vai acreditar quando
a ver. Você terá que ajudá-la.
-
Mais como? Terei que levá-la a Pedra da Gávea?
-
Não João, pelo contrario. Nós temos que retirá-la o mais
rapidamente possível das proximidades da Pedra da Gávea. Me lembrei
logo de você porque você nos falou que seu atelier em Sepetiba é
grande e espaçoso.
-
Mais que me conste ela é uma moça. Se ela for para lá, ela não
terá privacidade nem eu. Afinal eu tenho minhas relações. Isto é
meus namoricos.
-
Sim, sim João, eu entendo e lá em casa discutimos isso. Mais no
meio da historia existe um bebêzinho. Escute João; ela se confinou
no seu apartamento com a criança e de lá não sai. Eu é que levo
alguma coisa para ela e para a criança. Não posso pedir socorro as
autoridades, eles não entenderiam o problema e complicariam tudo.
Ela está irreconhecível João, por favor...
-
Realmente. a primeira coisa que fariam era tomarem a criança. E o
pai dela e o pai da criança? Pelo que eu sei a mãe ou morreu ou se
separou do marido.
-
Você pode não acreditar mais os dois estão mancomunados contra ela
porque ela tem um pouco de dinheiro guardado.
-
Da V eu não tenho condições financeiros para fazer a mudança dela
daqui para Sepetiba, porém a alimentação não será problema. como
vamos iniciar a ajuda?
-
João você teria que vê-la. Preferencialmente hoje, depois que
terminar a Feirarte. sendo você ela abrirá a porta pois eu falei
com ela que viria pedir ajuda a você e ela concordou. Você vai
ficar estarrecido com o que verá lá.
-
Suponho se ela concordar, amanhã mesmo eu venho para a cidade com um
transporte e amanhã mesmo ela e o nenê já dormem em Sepetiba.
-
Você indo lá hoje eu não irei pois tenho compromissos e amanhã em
tudo certo a noite ela que me telefone dando noticias. Se ela não me
telefonar será o sinal que as coisas não foram bem. Isso, não pode
acontecer.
Ainda
conversamos um pouco a respeito de vários assuntos depois ela se foi
sem não antes me cobrar a palavra dada.
Depois
do almoço efetuei duas boas vendas e mediante isso resolvi ir embora
mais cedo e resolver o problema. Desmontei meu painel e entreguei o
resto de meus quadros ao guardador, peguei um taxi e fui para
Botafogo onde Vv estava morando. Não foi difícil encontrar o
endereço, o edifício em que morava era na própria praia. Paguei o
taxi e adentrei no prédio, como não havia ninguém na portaria
tomei o elevador. Ao sair
do elevador divisei logo o a porta de seu apartamento. Bati na porta
e uma voz ríspida respondeu:
-
Não quero falar com ninguém. Por favor não me incomode.
-
Sou eu Vv, o João.
Ela
demorou a abrir a porta, o exalar do odor de urina e fezes de criança
dava para se pressentir através da própria porta e me incomodava .
Depois
de algum tempo ela abriu a porta.
-
Oi João entre. Não repare a bagunça.
Ali
estava uma figura esquálida, magra, só pele e ossos, desgrenhada e
de olheiras adensadas que denunciavam noites sem dormir, desnutrição
e desequilíbrio emocional. A catinga nauseabunda que inundava o
ambiente causava enjoo
ainda mais, somada a fumaça de cigarro que ela fumava quase que um
atrás do outro. Em um canto a criança
dormia enrolada em toalhas usadas e em cima do fogão panelas, pratos
e talheres estavam amontoados e sujos. Ela mesmo recendia o fétido
dos suores de seu corpo por não se assear em banho. O apartamento
era um quitinete pequeno e sua janela estava fechada o que
transformava o recinto em soturno ambiente.
Enquanto
tentava colocar alguma coisa no lugar ou separando roupas limpas das
sujas indaguei:
-
Mais o que é que houve com você ou o que é que está acontecendo?
-
Eles querem me matar João. Estão com muita raiva de mim e de lá da
Pedra da Gávea ficam me atormentando. Por isso mantenho a janela
fechada para que eles não possam me ver. Eles me vendo me atinjem e
eu passo muito mal.
Enquanto
ela falava eu pude perceber que seu corpo e seus olhos pediam
socorro. Coloquei as roupas limpas numa cadeira e as sujas dentro de
um saco e me dirigi para a janela. Ela pressentiu o que iria fazer e
de um pulo agarrou-me pelas costas tentando me impedir. Mais lépido
me desvencilhei dela e abri a janela de supetão. Até que a paisagem
era linda. Na frente e do lado esquerdo estava o Corcovado e ao longe
banhada pelo por do sol ao entardecer a Pedra da Gávea. Mais devido
a incidência dos raios solares e a proximidade do escurecer, estava
soturna e tétrica. Agarrada as minhas costas chorando e trêmula Vv
balbucionava baixinho.
-
Eles estão lá João. Mais não sei porque você não os vê. Eles
estão apontando para cá. João estou com medo. Por favor feche a
janela pois já estou ficando tonta e com dor de cabeça..
-Não.
respondi áspero e desvencilhei-me dela. Ela caiu sentada perto da
crianaça
e ali ficou imóvel. Não se mexia e de cabeça baixa chorava
baixinho. Penalizado a endireitei encostada a parede e ajeitei suas
roupas. Voltei para a janela e fiquei olhando firmemente para a Pedra
da Gávea enquanto uma raiva incontida fazia ferver meu sangue. Nem
percebi que ela estava abraçada a minhas costas. Só percebi quando
ela começou a falar baixinho.
-
Não posso acreditar no que estou vendo. Eles estão correndo para um
Ovni estacionado perto do Carrasqueiro pois estão com medo de você.
São muitos e alguns estão machucados. Eles são horríveis João,
horrorosos. Eles são o fruto de experiências genéticas mal
sucedidas e são as hostes de Satã. João nós não descendemos
dos grandes monos. Os grandes monos é que descendem
de nós e são um problema para os Gestores Cósmicos do planeta. No
dia que o ultimo grande mono morrer o problema terminará a nível
material mais a nível
espiritual não pois eles obedecendo a lei Cósmica que rege as
Inteligências Almáticas Independentes Semi humanas terão o direito
a reencarnação um nível acima aqui ou em outro planeta. É crime
Cósmico matar, escravizar ou tentar extinguir a raça. e no Cosmo
estes crimes são imperdoáveis.
-
Bem, e nós quem somos nós?
-
Nós somo Inteligências Almáticas Independentes e Humanas. Quando
atingirmos a evolução total, seremos Super Humanos mais só daqui a
milhões de anos não é mesmo João?
-
É verdade, é verdade. Mais se nós descendemos dos grandes monos,
porque eles não evoluíram?
Assim como não gosto que me digam que sou descendente do incestuoso
casal Adão e Eva não gosto de ouvir falar que sou descendente de
macacos, ainda mais quando fico dando cambalhotas no circo da vida.
-
Se você tem sangue indígena não precisa se preocupar. Você sabe
que na Europa debaixo dos panos os Humanistas de lá asseveram que
nossos índios ou antes os brasileiros são uma das heranças genéticas do planeta. Fui pesquisar
através dos astros e são mesmo. Eles são a nossa herança Lêmure
Atlante.
-
Ah!Ah... que bom se isso fosse
verdade, completei.
Da
janela fitava a Pedra da Gávea, conjeturava sobre a relação que
havia entre ela e a minha pessoa. O que poderia ser? Uma relação do
passado? Quem sou eu?
Estava
perdido em meus pensamentos quando Vv ao meu lado falou ternamente.
-
Não se preocupe João. Os Gestores do Planeta não permitirão isso
e isso o não saber do passado faz parte do evoluir. Faça as coisas
certas que acha que tem de fazer e a cada uma concluída, uma luz se
acenderá na sua jornada.
Aquiesci
com a cabeça que sim e indaguei;
-
Mais porque os alienígenas cismaram com você?
-
Ah! Sim. O motivo foi que através da astrologia consegui entrar em
contato com o comandante de um submarino atlante submerso e preso no
lodo do Rio Amazonas. A tripulação está vivendo em uma outra
dimensão mais, eles tem a esperança de serem salvos e voltarem a
viver talvez em outro sistema, não no nosso planeta na vida
material, acho se salvos a coisa seria assim. Se conseguíssemos
salvá-los herdaríamos seus bens materiais e sua alta tecnologia e é
isto que assusta os alienígenas.
-
Então para não ser incomodada terá que interromper os contatos.
-
É, infelizmente, infelizmente.
-
Vamos fazer o seguinte; eu vou comprar um lanche para nós e na volta
combino o que vamos fazer amanhã pois já escureceu e eu tenho que
ir embora para Sepetiba.
Como
a padaria era um pouco longe, demorei um pouco e ao voltar encontrei
Vv de banho tomado e a criança
arrumada e de roupa mudada em cima de toalhas limpas. Ele fez vários
sanduíches e enquanto comia e dava mamadeira a criança
lhe expliquei o meu plano.
-
Amanhã você vai cedo para o banco retira o dinheiro e arruma o que
estiver faltando. Devo chegar aqui no máximo até ao meio dia, a
mudança vai de combi e nós vamos de ônibus.
Confiante
em si e mais segura ela disse que retiraria uma quantia razoável
para não vir a cidade outra vez, coisa que ela não queria fazer tão
cedo.
Tudo
resolvido me despedir e fui embora. No dia seguinte combinei com um
amigo a mudança logo cedinho, quando foi mais ou menos umas 10 horas
já havíamos chegado em Botafogo. Mais ou menos umas 11 horas Vv
chegou e estava alegre e bem disposta. A mudança foi rapidamente
acomodada na combi pois suas coisas eram poucas. A combi partiu para
Sepetiba e nós fomos para a praia tomar o "frescão" para
Sta Cruz.
Dentro
do ônibus ela indagou se os homens eram de confiança, lhe respondi
dizendo que eles eram tanto de confiança que em chegando em Sepetiba
eles arrumariam a mudança pois já sabiam qual o quarto em que
colocariam suas coisas.
-
Poxa! Mesmo que a gente demore a chegar?
-
Sim. respondi.
-
Então em Sta Cruz podemos fazer umas compras?
-
Claro. Lá o comercio é razoável
Vv
se calou mais olhava fixamente para mim. Seus olhos grandes e negros
pareciam querer me dizer alguma coisa mais entrou em profundo sono
assim como a criança
e eu entendi o porque. Mais, quando o "frescão" já na
Barra da Tijuca passava próximo a Pedra da Gávea ela abriu os
olhos, e de olhos fixos na montanha exclamou:
-Adeus
velhacos!
Em
Sta Cruz ela comprou algumas coisas que considerava de necessidade
imediata e uma lembrança para minha mãe. Viemos de táxi pois
tínhamos que parar no ponto das combis e pagar ao meu amigo. Ele
falou que estava tudo arrumado mais fechara as janelas pois não
sabia que hora chegaríamos. Nos despedimos e fomos para minha casa.
Como a rua é sem saída o táxi manobrou ali mesmo e o barulho do
carro fez com que minha mãe viesse a varanda e quando ela viu eu
chegar com uma mulher e um nenê a tiracolo a sua fisionomia era só
espanto e curiosidade
VV
já conhecia minha mãe pois uma vez quando ainda na Abepa a
acompanhei numa ida a Pedra da Gávea.
-
Não é nada disso que a senhora está pensando Da. M, sou apenas uma
amiga do João e vim passar uns tempos em Sepetiba Foi logo se
explicando Vv.
Mediante
isso minha mãe tomou a criança
em seus braços e se sentaram para conversar.
Como
já passava das 2 horas e não tínhamos almoçado sai em busca de
refrigerantes pois havíamos trazido uma enorme pizza. Após o lanche
Vv se despediu de minha mãe e fomos para o atelier. Em lá chegando
ao se adentrar exclamou;
-
Mais que astral!
Vv
percorreu a casa toda e o quintal e achou que o quarto que havia lhe
reservado era excelente. Cantarolando deitou a criança
no tapete da sala e foi arrumar suas coisas.
Vv
nem a criança me incomodavam. A sua vida transcorria tranquila,
cuidando da criança
e fazendo seus astrológicos cálculos e um dia me perguntou quem era
o " homem
da cheia do Nilo". sinceramente não soube responder. Meses
depois ela comprou uma pequena casa ao lado da minha e lá passou
talvez um ano. Eu a sentia só e isolada mais não tocava no assunto.
Um dia porém, vindo a cidade encontrou um antigo namorado. Ele ao
tomar conhecimento da criança,
segundo ela, lhe propôs casamento. Ela voltou para casa entusiasmada
e tratou de vender a casa pois iria viver em Brasília. A venda da
casa foi rápida e ela se foi. Espero que ela esteja bem. Deste
evento, a única coisa que lamento e isso não me perdoo
é que nunca me lembrei de perguntar a Vv qual era o método
utilizado por ela para se comunicar com o comandante do submarino
atlante.
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O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga
pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No
entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e
o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre
serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.
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Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
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Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
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Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão
**** Fim.
**** Fim.
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