segunda-feira, 22 de novembro de 2010

No altar dos sacrifícios II

Nos idos do ano de 1980, talvez 1983.
Era domingo e como de costume após montarmos nossos painéis na Feirarte de Ipanema íamos tomar nosso café entre bate papos e leitura de jornais.
Já estávamos apressando a conta quando um colega entrou e me avisou:
-JB tem uma senhora te esperando no painel. Parece ser uma cliente.
- Mais a esta hora? indaguei.
- Vá logo JB, a senhora parece impaciente.
Rápido me dirigir para a praça e ao lá chegar qual não foi a minha surpresa; Era Da V.
- Olá João, como vai? Gostei de seu trabalho. Suas figuras são alegres e prazeirosas. Me fazem sentir saudades de meu Ceará.
Após cumprimentá-la e trocar algumas idéias sobre arte e cultura indaguei quais os motivos que a fizeram vir tão cedo a Feirarte.
- Problemas João, problemas... desta vez não sou eu que está em perigo, mais uma amiga minha e você a conhece. Ela como eu no passado está sendo vítima de eventos ou situações ligadas a Pedra da Gávea. Ela é a Vv.
- Mais ela não era tão sólida, espiritualizada e até astróloga?
- O ferro é forte e duro mais não é imune a ferrugem e ela está enferrujando no corpo e no espírito. Você só vai acreditar quando a ver. Você terá que ajudá-la.
- Mais como? Terei que levá-la a Pedra da Gávea?
- Não João, pelo contrario. Nós temos que retirá-la o mais rapidamente possível das proximidades da Pedra da Gávea. Me lembrei logo de você porque você nos falou que seu atelier em Sepetiba é grande e espaçoso.
- Mais que me conste ela é uma moça. Se ela for para lá, ela não terá privacidade nem eu. Afinal eu tenho minhas relações. Isto é meus namoricos.
- Sim, sim João, eu entendo e lá em casa discutimos isso. Mais no meio da historia existe um bebêzinho. Escute João; ela se confinou no seu apartamento com a criança e de lá não sai. Eu é que levo alguma coisa para ela e para a criança. Não posso pedir socorro as autoridades, eles não entenderiam o problema e complicariam tudo. Ela está irreconhecível João, por favor...
- Realmente. a primeira coisa que fariam era tomarem a criança. E o pai dela e o pai da criança? Pelo que eu sei a mãe ou morreu ou se separou do marido.
- Você pode não acreditar mais os dois estão mancomunados contra ela porque ela tem um pouco de dinheiro guardado.
- Da V eu não tenho condições financeiros para fazer a mudança dela daqui para Sepetiba, porém a alimentação não será problema. como vamos iniciar a ajuda?
- João você teria que vê-la. Preferencialmente hoje, depois que terminar a Feirarte. sendo você ela abrirá a porta pois eu falei com ela que viria pedir ajuda a você e ela concordou. Você vai ficar estarrecido com o que verá lá.
- Suponho se ela concordar, amanhã mesmo eu venho para a cidade com um transporte e amanhã mesmo ela e o nenê já dormem em Sepetiba.
- Você indo lá hoje eu não irei pois tenho compromissos e amanhã em tudo certo a noite ela que me telefone dando noticias. Se ela não me telefonar será o sinal que as coisas não foram bem. Isso, não pode acontecer.
Ainda conversamos um pouco a respeito de vários assuntos depois ela se foi sem não antes me cobrar a palavra dada.
Depois do almoço efetuei duas boas vendas e mediante isso resolvi ir embora mais cedo e resolver o problema. Desmontei meu painel e entreguei o resto de meus quadros ao guardador, peguei um taxi e fui para Botafogo onde Vv estava morando. Não foi difícil encontrar o endereço, o edifício em que morava era na própria praia. Paguei o taxi e adentrei no prédio, como não havia ninguém na portaria tomei o elevador. Ao sair do elevador divisei logo o a porta de seu apartamento. Bati na porta e uma voz ríspida respondeu:
- Não quero falar com ninguém. Por favor não me incomode.
- Sou eu Vv, o João.
Ela demorou a abrir a porta, o exalar do odor de urina e fezes de criança dava para se pressentir através da própria porta e me incomodava .
Depois de algum tempo ela abriu a porta.
- Oi João entre. Não repare a bagunça.
Ali estava uma figura esquálida, magra, só pele e ossos, desgrenhada e de olheiras adensadas que denunciavam noites sem dormir, desnutrição e desequilíbrio emocional. A catinga nauseabunda que inundava o ambiente causava enjoo ainda mais, somada a fumaça de cigarro que ela fumava quase que um atrás do outro. Em um canto a criança dormia enrolada em toalhas usadas e em cima do fogão panelas, pratos e talheres estavam amontoados e sujos. Ela mesmo recendia o fétido dos suores de seu corpo por não se assear em banho. O apartamento era um quitinete pequeno e sua janela estava fechada o que transformava o recinto em soturno ambiente.
Enquanto tentava colocar alguma coisa no lugar ou separando roupas limpas das sujas indaguei:
- Mais o que é que houve com você ou o que é que está acontecendo?
- Eles querem me matar João. Estão com muita raiva de mim e de lá da Pedra da Gávea ficam me atormentando. Por isso mantenho a janela fechada para que eles não possam me ver. Eles me vendo me atinjem e eu passo muito mal.
Enquanto ela falava eu pude perceber que seu corpo e seus olhos pediam socorro. Coloquei as roupas limpas numa cadeira e as sujas dentro de um saco e me dirigi para a janela. Ela pressentiu o que iria fazer e de um pulo agarrou-me pelas costas tentando me impedir. Mais lépido me desvencilhei dela e abri a janela de supetão. Até que a paisagem era linda. Na frente e do lado esquerdo estava o Corcovado e ao longe banhada pelo por do sol ao entardecer a Pedra da Gávea. Mais devido a incidência dos raios solares e a proximidade do escurecer, estava soturna e tétrica. Agarrada as minhas costas chorando e trêmula Vv balbucionava baixinho.
- Eles estão lá João. Mais não sei porque você não os vê. Eles estão apontando para cá. João estou com medo. Por favor feche a janela pois já estou ficando tonta e com dor de cabeça..
-Não. respondi áspero e desvencilhei-me dela. Ela caiu sentada perto da crianaça e ali ficou imóvel. Não se mexia e de cabeça baixa chorava baixinho. Penalizado a endireitei encostada a parede e ajeitei suas roupas. Voltei para a janela e fiquei olhando firmemente para a Pedra da Gávea enquanto uma raiva incontida fazia ferver meu sangue. Nem percebi que ela estava abraçada a minhas costas. Só percebi quando ela começou a falar baixinho.
- Não posso acreditar no que estou vendo. Eles estão correndo para um Ovni estacionado perto do Carrasqueiro pois estão com medo de você. São muitos e alguns estão machucados. Eles são horríveis João, horrorosos. Eles são o fruto de experiências genéticas mal sucedidas e são as hostes de Satã. João nós não descendemos dos grandes monos. Os grandes monos é que descendem de nós e são um problema para os Gestores Cósmicos do planeta. No dia que o ultimo grande mono morrer o problema terminará a nível material mais a nível espiritual não pois eles obedecendo a lei Cósmica que rege as Inteligências Almáticas Independentes Semi humanas terão o direito a reencarnação um nível acima aqui ou em outro planeta. É crime Cósmico matar, escravizar ou tentar extinguir a raça. e no Cosmo estes crimes são imperdoáveis.
- Bem, e nós quem somos nós?
- Nós somo Inteligências Almáticas Independentes e Humanas. Quando atingirmos a evolução total, seremos Super Humanos mais só daqui a milhões de anos não é mesmo João?
- É verdade, é verdade. Mais se nós descendemos dos grandes monos, porque eles não evoluíram? Assim como não gosto que me digam que sou descendente do incestuoso casal Adão e Eva não gosto de ouvir falar que sou descendente de macacos, ainda mais quando fico dando cambalhotas no circo da vida.
- Se você tem sangue indígena não precisa se preocupar. Você sabe que na Europa debaixo dos panos os Humanistas de lá asseveram que nossos índios ou antes os brasileiros são uma das heranças genéticas do planeta. Fui pesquisar através dos astros e são mesmo. Eles são a nossa herança Lêmure Atlante.
- Ah!Ah... que bom se isso fosse verdade, completei.
Da janela fitava a Pedra da Gávea, conjeturava sobre a relação que havia entre ela e a minha pessoa. O que poderia ser? Uma relação do passado? Quem sou eu?
Estava perdido em meus pensamentos quando Vv ao meu lado falou ternamente.
- Não se preocupe João. Os Gestores do Planeta não permitirão isso e isso o não saber do passado faz parte do evoluir. Faça as coisas certas que acha que tem de fazer e a cada uma concluída, uma luz se acenderá na sua jornada.
Aquiesci com a cabeça que sim e indaguei;
- Mais porque os alienígenas cismaram com você?
- Ah! Sim. O motivo foi que através da astrologia consegui entrar em contato com o comandante de um submarino atlante submerso e preso no lodo do Rio Amazonas. A tripulação está vivendo em uma outra dimensão mais, eles tem a esperança de serem salvos e voltarem a viver talvez em outro sistema, não no nosso planeta na vida material, acho se salvos a coisa seria assim. Se conseguíssemos salvá-los herdaríamos seus bens materiais e sua alta tecnologia e é isto que assusta os alienígenas.
- Então para não ser incomodada terá que interromper os contatos.
- É, infelizmente, infelizmente.
- Vamos fazer o seguinte; eu vou comprar um lanche para nós e na volta combino o que vamos fazer amanhã pois já escureceu e eu tenho que ir embora para Sepetiba.
Como a padaria era um pouco longe, demorei um pouco e ao voltar encontrei Vv de banho tomado e a criança arrumada e de roupa mudada em cima de toalhas limpas. Ele fez vários sanduíches e enquanto comia e dava mamadeira a criança lhe expliquei o meu plano.
- Amanhã você vai cedo para o banco retira o dinheiro e arruma o que estiver faltando. Devo chegar aqui no máximo até ao meio dia, a mudança vai de combi e nós vamos de ônibus.
Confiante em si e mais segura ela disse que retiraria uma quantia razoável para não vir a cidade outra vez, coisa que ela não queria fazer tão cedo.
Tudo resolvido me despedir e fui embora. No dia seguinte combinei com um amigo a mudança logo cedinho, quando foi mais ou menos umas 10 horas já havíamos chegado em Botafogo. Mais ou menos umas 11 horas Vv chegou e estava alegre e bem disposta. A mudança foi rapidamente acomodada na combi pois suas coisas eram poucas. A combi partiu para Sepetiba e nós fomos para a praia tomar o "frescão" para Sta Cruz.
Dentro do ônibus ela indagou se os homens eram de confiança, lhe respondi dizendo que eles eram tanto de confiança que em chegando em Sepetiba eles arrumariam a mudança pois já sabiam qual o quarto em que colocariam suas coisas.
- Poxa! Mesmo que a gente demore a chegar?
- Sim. respondi.
- Então em Sta Cruz podemos fazer umas compras?
- Claro. Lá o comercio é razoável
Vv se calou mais olhava fixamente para mim. Seus olhos grandes e negros pareciam querer me dizer alguma coisa mais entrou em profundo sono assim como a criança e eu entendi o porque. Mais, quando o "frescão" já na Barra da Tijuca passava próximo a Pedra da Gávea ela abriu os olhos, e de olhos fixos na montanha exclamou:
-Adeus velhacos!
Em Sta Cruz ela comprou algumas coisas que considerava de necessidade imediata e uma lembrança para minha mãe. Viemos de táxi pois tínhamos que parar no ponto das combis e pagar ao meu amigo. Ele falou que estava tudo arrumado mais fechara as janelas pois não sabia que hora chegaríamos. Nos despedimos e fomos para minha casa. Como a rua é sem saída o táxi manobrou ali mesmo e o barulho do carro fez com que minha mãe viesse a varanda e quando ela viu eu chegar com uma mulher e um nenê a tiracolo a sua fisionomia era só espanto e curiosidade
VV já conhecia minha mãe pois uma vez quando ainda na Abepa a acompanhei numa ida a Pedra da Gávea.
- Não é nada disso que a senhora está pensando Da. M, sou apenas uma amiga do João e vim passar uns tempos em Sepetiba Foi logo se explicando Vv.
Mediante isso minha mãe tomou a criança em seus braços e se sentaram para conversar.
Como já passava das 2 horas e não tínhamos almoçado sai em busca de refrigerantes pois havíamos trazido uma enorme pizza. Após o lanche Vv se despediu de minha mãe e fomos para o atelier. Em lá chegando ao se adentrar exclamou;
- Mais que astral!
Vv percorreu a casa toda e o quintal e achou que o quarto que havia lhe reservado era excelente. Cantarolando deitou a criança no tapete da sala e foi arrumar suas coisas.
Vv nem a criança me incomodavam. A sua vida transcorria tranquila, cuidando da criança e fazendo seus astrológicos cálculos e um dia me perguntou quem era o " homem da cheia do Nilo". sinceramente não soube responder. Meses depois ela comprou uma pequena casa ao lado da minha e lá passou talvez um ano. Eu a sentia só e isolada mais não tocava no assunto. Um dia porém, vindo a cidade encontrou um antigo namorado. Ele ao tomar conhecimento da criança, segundo ela, lhe propôs casamento. Ela voltou para casa entusiasmada e tratou de vender a casa pois iria viver em Brasília. A venda da casa foi rápida e ela se foi. Espero que ela esteja bem. Deste evento, a única coisa que lamento e isso não me perdoo é que nunca me lembrei de perguntar a Vv qual era o método utilizado por ela para se comunicar com o comandante do submarino atlante.
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**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão

**** Fim.


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